Em julho deste ano, o Cemitério da Consolação (região central de São Paulo) completa 155 anos. Mas nos seus aproximadamente 77 mil m² estão toda a história da cidade, que completa 459 anos .
Passear pelas alamedas do lugar é se deparar com personagens históricos da polícia, literatura, artes em geral e até da nobreza. A arte está presente em quase todos os cantos do cemitério. A caminhada também pode ser uma aula de arte tumular, para os interessados.
Mas o passeio não é fácil. A área é grande --são 8.200 túmulos de tamanhos diversos-- e um roteiro completo deve ser feito em ao menos três horas. É o que garante o "Doutor Cemitério", o professor de história e geografia da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) Eduardo Coelho Morgado Rezende.
Grande conhecedor do cemitério e suas obras, Rezende já escreveu dois livros sobre necrópoles de São Paulo.
"Sempre trago meus alunos para dar aulas aqui. É um lugar onde há todos os aspectos da cidade. Também faço visitas guiadas de uma, duas horas de duração. Para conhecer tudo mesmo, com detalhes, são necessárias três horas", afirmou.
O cemitério abriga túmulos que chamam a atenção pela suntuosidade --como o da família Matarazzo com 20 metros de altura-- e pela personalidade sepultada --como os da Marquesa de Santos, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato, Campos Sales e Mário de Andrade.
Mas há também aquelas sepulturas que abrigam obras de arte feitas por escultores célebres. No túmulo da mecenas Olívia Guedes Penteado há a escultura "O Sepultamento", de Victor Brecheret, de 1923.
"Há quem diga que é a obra mais bonita dele. Venceu o Salão de Outono de Paris, em 1923. É uma Pietá, um Cristo com suas quatro Marias", explica Rezende.
Na placa de identificação do túmulo de Olívia, há a descrição "protetora das artes". "Ela era uma mulher a frente de seu tempo. Foi a primeira a dirigir em São Paulo", disse o professor sobre a história de um dos inúmeros personagens sepultados ali.
Luigi Brizzolara, escultor italiano, decorou o mausoléu dos Matarazzo e Galileo Emendabili também tem obras no cemitério. Rezende chama este último de artista de obras narrativas.
"Aqui no cemitério você encontra obras narrativas, que falam por si só, e aquelas abstratas, que depende da interpretação de cada um", explica o professor.
Uma das peças de Emendabili para uma sepultura compõe três figuras que representam uma família. Um homem, abraçado ao filho e com um coração nas mãos. À frente, uma mulher com gesto de despedida com a mão no peito.
Segundo Rezende, o túmulo de Armando Sales de Oliveira, que foi governador de São Paulo na década de 1930 e fundou a USP (Universidade de São Paulo), tem uma obra abstrata, do artista Bruno Giorgi. A escultura lembra duas mãos voltadas para o céu. Mas a interpretação é livre.
Visitas
Visitar o cemitério sozinho em busca dos túmulos dos personagens históricos e das obras de arte não é aconselhável. Não há placas que identifiquem a localização dos sepulcros célebres nem sobre as obras.
Ao contrário. Famílias de algumas personalidades históricas enterradas ali, como a de Monteiro Lobato, por exemplo, não permitem que se façam fotos do túmulo, com o objetivo de evitar que sua localização seja identificada.
Na administração local há tempos já não há folhetos explicativos e indicativos. O ideal é procurar um guia historiador, como Rezende, ou agendar uma visita monitorada com o Serviço Funerário.
Para agendar uma visita com o guia Francivaldo Gomes, o Popó, ex-coveiro do local, é preciso ligar para o telefone 0/xx/11/3396-3815/3833. As visitas monitoradas acontecem somente de segunda a sexta-feira, às 9h e às 14h, e duram, em média, uma hora.