
Decididamente, Umberto Eco decidiu irritar os judeus com O Cemitério de Praga. A lista de diatribes contra este povo, descrita ao longo de mais de 500 páginas, deixa os nervos em franja a qualquer leitor. Eco garante que é um romance e não um livro de História.
O cemitério de Praga...Curiosamente, a única figura de fato inventada nesse romance, que tem como cenário principal a cidade de Praga no século XIX, é o protagonista Simone Simonini, embora, como afirme o autor, basta falar de algo para esse algo passar a existir... Além disso, a história envolve missas negras, o caso Dreyfus, o bombardeio a Napoleão III, a Comuna de Paris, entre outros fatos reais. A partir deste cenário, o autor descreve um tratado sobre o mecanismo do ódio, uma espécie de síntese da história do preconceito.
O odioso Simonini, que o próprio autor define como um dos mais repulsivos personagens literários já criados por ele, é um mestre do disfarce e da conspiração. Um falsário a serviço de vários governos. Do nordeste italiano até a Sicília de Garibaldi, das favelas de Paris às tabernas alemãs, Simonini representa todas as revoluções, as más escolhas, os erros do século XIX, que Eco reconstrói com grande rigor histórico, entre tomadas de poder e revoluções.
Desvendando Hitler
O cemitério judeu de Praga, marco central da narrativa, também lembra um dos mais impressionantes episódios de falsificação da história: os protocolos dos sábios de Sião, um texto forjado pela polícia secreta do Czar Nicolau II para justificar a perseguição aos judeus. Os escritos, que se acredita terem sido baseados em um texto francês — Diálogos no inferno entre Maquiável e Montesquieu — descreviam um suposto plano para a dominação mundial pelos israelitas. E serviriam de inspiração a Hitler para os campos de concentração.
O livro causou desconforto em setores mais conservadores da sociedade italiana, principalmente entre religiosos, por misturar personagens históricos a um anti-herói fictício, cínico e maquiavélico, capaz de tudo para conseguir se vingar de padres, jesuítas, comunistas, mas, principalmente, dos judeus. Repleto de teorias da conspiração, falsificações, assuntos maçônicos e detalhes da unificação italiana, a obra teve cerca de quatrocentos mil exemplares vendidos na Itália no mês de seu lançamento.
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